sábado, 25 de outubro de 2008

(Leandro Carvalho) O concerto de ontem aconteceu em Laranjeiras, município a 18 km de Aracaju, no Centro de Tradições. Tivemos a oportunidade de levar música de concerto para pessoas que, em sua maioria, nunca tinham visto uma orquestra. Nestes momentos, as limitações técnicas ficam pequenas diante da grande responsabilidade de apresentar um ‘novo’ mundo musical para centenas de pessoas. A palavra ‘democratizar’ ganha força e o objetivo maior do Programa Cultural do Instituto Votorantim, e também da Orquestra do Estado de Mato Grosso, é alcançado com plenitude.

Do ponto de vista artístico, engana-se quem pensa que concertos ‘sociais’ são menos importantes ou uma mera obrigação. A troca com um público ‘humano’, verdadeiramente interessado e com coração mais que aberto, escancarado, é tão intensa que a satisfação provocada em nós é quase sempre mais profunda e marcante que em situações ideais, para um público ‘iniciado’. A surpresa, o inusitado, a quebra de barreiras e paradigmas devem ser prática dos artistas, assim como o contato direto com as pessoas.

Música 'ex-temporânea'

Li nos jornais de hoje algumas noticias que me fizeram refletir sobre a atividade de muitos 'compositores' e 'intérpretes' de música 'séria'. Ficar trancado em seu gabinete, fazendo música para ‘meia dúzia’ de metidos a intelectuais, com a desculpa que ‘o mundo não me entende por que sou muito gênio’ só é possível graças ao subsidio universitário 'des-criterioso' (em outras palavras, mantem-se dezenas, centenas, milhares de 'professores' em obscuros departamentos universitários que nada fazem, nada produzem, e nenhum compromisso tem com a educação no Brasil e muito menos com o desenvolvimento do país). Como disse certa feita um dos gurus dos 'compositores' e 'intérpretes' extemporâneos Pierre Boulez, estes compositores 'até gostam' de se fechar em guetos e evitar o contato com o mundo externo. Ninguém critica, nem questiona. É tão confortável. E se algo ameaça seu mundo encantado, eles tem sempre um discurso afiado, aprimorado por anos e anos de estudos semióticos em uma PUC da vida, com palavras pomposas. Não se pode perguntar ‘pra que?’. A resposta vem rápida e rasteira: ‘música não tem que necessariamente servir para alguma coisa’. E assim estes falsos artistas vão justificando sua atuação medíocre e insignificante num mundo cheio de carências onde o papel do artista pode ser decisivo. E pior, numa situação como a que vivemos hoje aqui em Sergipe, quando a platéia é uma espécie de ‘folha em branco’, se aparece um destes ‘artistas’ e faz um concerto chato e metido a besta, as pessoas nunca mais voltam e passarão o resto da vida achando que música ‘clássica’ é uma coisa chatérrima, feita para poucos. Precisamos nos vacinar e alertar a todos, principalmente os estudantes universitários de música, para evitarem que estas pessoas sigam fazendo grandes des-serviços à cultura brasileira e à democratização do acesso a bens culturais.

Música

Voltando a Laranjeiras, é importante ressaltar o trabalho de divulgação fantástico feito pela Ana da Votorantim e sua equipe. Visitaram todas as escolas da cidade, falaram com os professores, distirbuiram folhetos e cartazes nos pontos centrais e de grande circulação. As pessoas compareceram em peso: mais de 500 pessoas lotaram o Centro de Tradições. O painel que vemos atrás do palco reúne os principais folguedos da região como o Reisado, Guerreiros, Lambe-Sujos e Caboclinhos, Cacumbi, Taieira, Samba de Parelha, São Gonçalo, Batalhão 1º de São João, Chegança Almirante Tamandaré e os Penitentes.

Obrigado a Votorantim Cimentos e a Prefeitura de Laranjeiras.

PS: O suco de pitanga que nos serviram no camarim estava espetacular. O melhor que já provei. Soube que foi feito com a fruta colhida no jardim da casa da Prefeita. Obrigado Prefeita e parabéns pelas pitangas!

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